Gargalos do Brasil desafiam "década da logística" nacional.

13-05-2011 21:19

 

São Paulo - Companhias brasileiras aplicaram cerca de R$ 330 bilhões nos últimos anos na melhoria de suas operações de transporte, em especial. Estão, em sua maioria, no limite de sua capacidade de investimento. Levando-se em conta que as empresas de logística locais têm um faturamento de cerca de R$ 100 bilhões por ano, o número impressiona. Por outro lado, pensando-se nas necessidades da logística nacional, nem tanto.

Apenas o Plano Nacional de Logística e Transportes, o PNLT, estípula que mais de R$ 300 bilhões serão necessários até 2025 para que os gargalos da infraestrutura brasileira sejam sanados. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disponibilizou R$ 42 bilhões até 2013 para tanto. Não se sabe ainda de onde virá o valor restante - se de outros órgãos do governo, de empréstimos internacionais ou da iniciativa privada. Há, por exemplo, um volume de R$ 107 bilhões, já estabelecido, que será investido em portos, rodovias e ferrovias no Brasil até 2013. Deste valor, quase R$ 60 bilhões vão para as linhas férreas - o que inclui o trem de alta velocidade que, talvez, será construído entre São Paulo e Rio de Janeiro, revela Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF). "O Brasil tem hoje 29.000 km de ferrovia, quando deveria ter 52.000", lamenta ele. "Acho que, se houver coordenação entre todos os agentes da logística ferroviária no Brasil, em 2015 chegaremos a 32.000 km de malha ferroviária no País, o que ainda será pouco". De qualquer modo, ele enfatiza o termo 'coordenação': "Há um órgão, o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte [Conit], que deveria justamente fazer a intermediação entre todos os agentes do transporte por aqui. Mas, desde sua criação em 2001, ele reuniu-se apenas 2 vezes". De todas as análises, sobressai o risco real que o País viva um apagão logístico de graves consequências já nos próximos anos, mas também há esperança de que os aportes no setor cheguem a tempo de evitá-lo.

Carretas - Operadora logística focada em um nicho de mercado bastante original - armazenagem, manuseio, distribuição e logística reversa de material promocional - a Autlog é dona de 34 bases regionais em todo o Brasil, as quais somam 8.000 m². Com previsão de faturamento de R$ 20 milhões em 2011, a empresa gera lucro médio de 10% ao ano. E sofre com a precária infraestrutura do País.

"A atividade de transporte depende muito de edificações modernas, rodovias e malha aérea melhorados", pondera Flávio Augusto Abrunhoza Filho, diretor-geral e sócio proprietário da empresa". "Sem isso, o setor terá, como já tem, gargalos operacionais. A situação atual dos aeroportos é um retrato do que acontece em todos os demais modais. Como em outras atividades no Brasil, a carga de tributos é muito pesada". A solução, segundo ele, seriam mais linhas de financiamento e mais regulação para o transporte no País.

Poucas pessoas sabem, mas os dois Planos de Aceleração do Crescimento (PACs 1 e 2) surgiram a partir do PNLT. As metas de ambos foram inspiradas nas deste último, com modificações. Mas o PNLT peca, talvez, por focar-se apenas em objetivos, sem explicitar como concretizá-los: "Precisaríamos de algo que estipulasse não só metas, mas orçamentos, prazos e responsáveis por cada obra", acredita Vilaça.

É também esta a visão de Altamiro Borges, vice-presidente da Associação Brasileira de Logística (Aslog): "No Brasil, somos fortes em planejamento, mas ruins em execução", fulmina. E uma das principais razões disto é a falta de bons marcos regulatórios para a logística nacional, acredita ele: "É por isto que as parcerias público privadas custam tanto a deslanchar por aqui. Faltam bons marcos regulatórios para o negócio da infraestrutura no Brasil. Dinheiro e capacidade de trabalho temos, mas não há suficiente clareza quanto às regras do jogo", pondera Borges.

Se tais marcos legais sólidos se impusessem entre nós, a avalanche de recursos que se espera para a logística brasileira provavelmente viria mais fácil - mas, de qualquer maneira, é quase consenso que tais investimentos chegarão. "Os próximos anos serão a década da logística no Brasil, não tenho dúvidas", endossa Percival Margato Jr., presidente da Abrange Logística, que trabalha para indústrias metalúrgicas, de celulose e químicas, dentre outras. A empresa prevê crescer só em 2011 perto de 30%. "Com todos os problemas de infraestrutura, faltarão operadores logísticos no Brasil, na verdade. Isto gerará oportunidades no setor que ainda nem sonhamos que existam", garante ele, otimista.
 
Fonte: dci.com.br - Adaptado pelo Site da Logística.
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