Panorama Logístico do Estado da Bahia.

Por Leonardo Sanches de Carvalho

Os últimos quinze anos foram marcados por significativas mudanças no panorama industrial do Estado da Bahia. O advento de novos segmentos industriais como o automotivo, eletro-eletrônico, transformação de plásticos, a revitalização do Pólo Petroquímico de Camaçari, a interiorização da indústria de calçados e de papel e celulose, o agronegócio (principalmente frutas e grãos), a explosão da indústria da construção civil, entre outros importantes acontecimentos trouxeram consigo complexos sistemas logísticos, pois, é de conhecimento geral, que não há produção sem logística, uma vez que as indústrias precisam levar os seus produtos até o consumidor final. Vale ressaltar que num passado não muito distante o Brasil passou por uma alarmante falta de contêineres, que alguns especialistas consideraram como um primeiro “apagão logístico”. Outros especialistas já informam que se o Brasil crescer a uma taxa de 7 a 8% ao ano, aí sim ocorrerá um verdadeiro colapso nas atividades logísticas.

Especialistas apontam que rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos e portos são fatores chaves de sucesso para uma integração social, cultural e econômica de qualquer região, Estado ou País. Contudo, existe certa expectativa frustrada, pois todas as partes envolvidas (poder público, comunidade e instituições) estão cientes das necessidades estratégicas, porém, essas não são realizadas de maneira célere por conta de entraves burocráticos, ambientais, políticos e aqueles que, infelizmente, não se enquadram nas questões legais.

Baseado nesse cenário, todos os atores envolvidos, Estado, empresas industriais (existentes e entrantes), profissionais, instituições de ensino e comunidade tiveram que se adaptar rapidamente as novas demandas apresentadas. Nesse aspecto a Bahia saiu na frente!

A Bahia é um dos Estados pioneiros na busca de soluções para os entraves logísticos. Antes mesmo da formatação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou do PNLT (Plano Nacional de Logística e Transportes), ambos os programas do Governo Federal, a Bahia já demonstrava sua preocupação sobre o assunto com a formatação e divulgação do PELT-BA (Programa Estadual de Logística e Transportes). Tratava-se de um documento onde foram compilados os principais gargalos logísticos do Estado e as possíveis intervenções para a resolução de cada caso, inclusive as propostas relacionadas ao transporte. Atualmente, o PAC engloba essas ações. No entanto, algumas importantes obras de cunho logístico vem sendo implantadas ou iniciadas ao longo desses últimos anos ou já tiveram seus projetos aprovados, nas quais pode-se destacar: a Via Expressa Portuária, a recuperação de importantes rodovias, projetos de extrema importância como a Ferrovia Oeste-Leste, plataformas logísticas de Juazeiro, Feira de Santana e Vitória da Conquista, novos aeroportos em cidades estratégicas do interior, a requalificação do aeroporto internacional de Salvador como um operador logístico, reestruturação dos Portos de Salvador e Região Metropolitana, o Porto Sul em Ilhéus, o complexo naval (estaleiros) na região de São Roque do Paraguaçu, o rodoanel de Feira de Santana, a hidrovia do São Francisco, a Ponte Salvador-Itaparica, entre outras. A área de transportes urbanos merece especial destaque e espera-se que isso realmente venha acontecer por conta da confirmação de Salvador como uma das cidades sede da Copa de 2014.

Ainda nesse panorama logístico cabe destacar as vantagens comparativas do Estado da Bahia. É o Estado da federação com uma das menores distâncias dos continentes africano e europeu, faz fronteira com oito estados da federação, possui o maior litoral do país (mais de 1.100 km) e a maior baía de águas abrigadas, é o Estado com a quinta maior extensão territorial do país (cerca de 568 milhões de km²), detém o maior trecho do Rio São Francisco para uma intensificação do modal hidroviário, possui uma localização estratégica em relação a todas as regiões do país e representa mais de 50% do PIB (Produto Interno Bruto) do Nordeste.

Pode-se destacar ainda algumas vantagens técnicas: é atendida pelos quatro principais modais de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo), o Estado é cortado pelas duas principais rodovias (BR 101 e BR116) do país, possui aeroportos internacionais e pelo seu grande apelo turístico, possui capilaridade e freqüência considerável de vôos domésticos e internacionais, possui significativa reserva petrolífera o que viabilizou a sua refinaria, trata-se do maior Estado exportador da região Nordeste, possui o maior Pólo Petroquímico do Brasil e também uma indústria de transformação em intenso crescimento, puxada pelo pólo automotivo. Tem em seus domínios indústrias que são grandes players mundiais como Petrobrás, Vale, Braskem, Ford, entre outras. Enfim, já possui uma base consolidada que atende a essas grandes empresas, certamente que não em sua plenitude, porém com um considerável nível de serviço.

Quanto à formação profissional conta com Universidades Federais e Estaduais, além de uma vasto número de faculdades privadas. Há que se destacar a atuação do SENAI, principalmente com o advento da Unidade CIMATEC, localizada em Salvador, que é considerada pela própria CNI – Confederação Nacional da Indústria – como a mais moderna Unidade do Sistema SENAI no Brasil. No SENAI CIMATEC existe uma área específica em Logística que forma profissionais em nível técnico, de graduação e pós-graduação, além de atuar como um provedor de serviços técnicos, tecnológicos e de pesquisa

Ainda no campo das vantagens deve-se lembrar que o Estado possui uma atrativa política de incentivos fiscais que pode ser facilmente conhecida e detalhada nas Secretarias da Fazenda e Indústria, Comércio e Mineração.

Enfim, o Estado da Bahia está longe de ser benchmark em infra-estrutura logística e certamente necessita de importantes intervenções nesse setor, porém, é fato também que possui diferenciais relevantes em relação a outros Estados da União, constituindo-se em um ponto forte para atração de novos e importantes empreendimentos.

Leonardo Sanches de Carvalho é Engenheiro Mecânico, Mestre em Administração e MBA em Logística e Distribuição. Trabalhou em empresas de grande porte como General Electric e VALE. Atualmente é gerente da área de Logística e Gestão da Produção do SENAI CIMATEC.