Presidente da Fieb defende criação de órgão gestor para cidades da Região Metropolitana.

Presidente da Fieb defende criação de órgão gestor para cidades da Região Metropolitana.

O Site da Logística publica a íntegra da entrevista concedida ao jornal CORREIO pelo Presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia. Mascarenhas abre série de entrevistas e reportagens do Fórum Agenda Bahia, que este ano vai debater, em Infraestrutura, soluções para as cidades da Região Metropolitana de Salvador. Falta, para o presidente da Fieb, um planejamento urbano único

Em um amplo gabinete envidraçado e decorado com móveis clássicos no quinto andar do prédio que abriga a presidência da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas já se acostumou a ouvir sempre as mesmas queixas de empresários interessados em investir na Região Metropolitana de Salvador - 13 cidades que detêm 60% das indústrias instaladas na Bahia.

“Os empresários dizem que não têm condições de aplicar os seus recursos em municípios sem infraestrutura, com um péssimo sistema de transporte público e ausência total de planejamento urbano”, afirma Mascarenhas, que também é vice-presidente do  Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da  Confederação Nacional da Indústria. O Coinfra é responsável pelo planejamento, integração e desenvolvimento dos setores industriais, especialmente nas áreas de energia, saneamento básico, transportes, privatizações, concessões e telecomunicações.

O Fórum Agenda Bahia vai debater, no dia 31 de outubro, soluções para a Região Metropolitana de Salvador. Nesta entrevista ao CORREIO, José de Freitas Mascarenhas aponta ações conjuntas para as cidades da RMS. Mas avisa: “Dá para colocar a casa em ordem, mas vai custar caro, porque vamos começar (a resolver os problemas) um pouco tarde”.

Muitos problemas são comuns aos 13 municípios que fazem parte da Região Metropolitana de Salvador: transporte público e infraestrutura deficientes, falta de saneamento básico e de infraestrutura e engarrafamentos constantes. Quais as propostas da Fieb para reverter esta situação?
A Fieb é sujeito passivo em todos estes problemas. No fundo, ela é uma usuária deste sistema e sofre como toda a população. O fato concreto é que os problemas da Região Metropolitana se agravam a cada dia e não têm solução à vista, porque há muito tempo que não se faz investimentos em infraestrutura nas cidades que a compõem. Temos tentado, junto ao governo estadual, encaminhar essas questões. Até porque é o governo que tem autoridade para resolver, evidentemente com a participação dos prefeitos.

O senhor acredita mesmo que ainda dá tempo para colocar a casa em ordem?
Dá, mas vai custar caro, porque vamos começar (a resolver os problemas) um pouco tarde. Isso se começássemos hoje. Como isso não vai acontecer, corremos o risco de as obras começarem tarde demais, quando a situação ficar ainda mais insuportável. Todas as discussões sobre mobilidade urbana, infraestrutura e transformações nas cidades para melhorar a vida das pessoas devem acontecer no planejamento, e não durante a execução das obras. Porque, na execução das obras, sempre há grupos de interesse que terminam prejudicando os trabalhos. O princípio de solução de todos os problemas  chama-se planejamento urbano, pois as pessoas moram nas cidades, vivem nas cidades, estudam nas cidades, trabalham nas cidades. Mas o que vejo em todas as cidades da Região Metropolitana de Salvador é a ausência total de
planejamento urbano, infelizmente.

O senhor preside uma das federações mais importantes do país. Do ponto de vista industrial, quais os prejuízos que esta falta de planejamento provoca na RMS?
O principal fator é a perda de produtividade. Até porque, com a falta de mobilidade urbana, as pessoas estão trabalhando menos. Recentemente, o IBGE divulgou, com base no Censo de 2010, que o tempo de percurso gasto pelo brasileiro para ir de casa ao trabalho é um dos principais martírios para os habitantes das regiões metropolitanas. Vamos tomar como exemplo Salvador. Aqui, quase 61% das pessoas ocupadas gastam entre 30 minutos e duas horas para ir ao trabalho. E ainda tem o retorno para suas casas. Então, pode-se afirmar que o trabalhador de Salvador perde, todos os dias, entre uma e quatro horas somente no trânsito. E quem fica muito tempo no trânsito tem menos tempo para trabalhar, isto é lógico. Só isso já é mais do que suficiente para inibir investimentos dos empresários.

Mas perder muito tempo no trânsito não é um problema comum nas grandes cidades?
Sim, mas São Paulo e Rio de Janeiro, que são as maiores metrópoles do país, têm se movimentado em busca de soluções para reduzir os efeitos do problema causado pela falta de mobilidade urbana. São Paulo está investindo na ampliação da linha do metrô, vai construir um monotrilho interligando o Aeroporto de Congonhas à Estação do Morumbi, possui muitos quilômetros de linhas exclusivas para ônibus e táxis, e o Rio está aproveitando o boom da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos para fazer muitas obras. Já as cidades da Região Metropolitana de Salvador não fazem absolutamente nada. Como não há mágica, os problemas tendem a piorar muito nos próximos anos.

Os empresários reclamam muito da falta de infraestrutura na Região Metropolitana?
Todos reclamam, e não são apenas os empresários.

Fora a falta de mobilidade urbana, na visão dos empresários, quais são os outros problemas que dificultam a atração de empresas nas cidades da RMS?
Salvador, que é a maior cidade do estado, não tem um centro de localização de empresas, por exemplo. Salvador precisa buscar fonte de renda em sua fonte principal, que é o turismo. Mas, com a degradação da cidade, os turistas estão se afastando. As pessoas, quando procuram a Bahia, vão para Praia do Forte, Costa do Sauipe, e praticamente não entram em Salvador. E não entram porque as nossas atrações turísticas, que são muitas, estão completamente abandonadas. Vou citar apenas dois exemplos: o Pelourinho involuiu e a nossa orla, que é a mais bonita do Brasil, também é a mais degradada. Resumindo: hoje Salvador é um péssimo cartão de visitas para os turistas, para os empresários que visitam a cidade, para as pessoas que moram aqui e saem à procura de lazer.

O que poderia ser feito para dar mais dinamismo às ações de planejamento na RMS?
Falta colocar em prática o Conselho da Região Metropolitana, que só existe no papel. Não há, na prática, uma solução isolada. Não adianta o gestor achar que resolve o problema do saneamento básico apenas ampliando o abastecimento de água, porque tudo é comum e integrado. Nesse caso específico, é preciso aumentar a oferta de água, mas também é preciso investir em rede de esgoto, coleta de lixo, pavimentação de ruas e avenidas. Enfim, é preciso fazer o que todos falam, mas ninguém faz.

Mas quem poderia, de fato, resolver os problemas da RMS?
É preciso a integração entre todas as partes envolvidas. O governo, as prefeituras, os empresários, a sociedade civil, as entidades de classe. Sou, inclusive, favorável à contratação de uma empresa estrangeira para a execução do projeto de repensar as cidades da Região Metropolitana porque, certamente, seus dirigentes não aceitariam parâmetros com os quais convivemos passivamente. Por exemplo: ninguém, de um país mais adiantado, aceitaria o sistema de transporte de Salvador ou das cidades que compõem a RMS. É claro que os estrangeiros teriam de ter, necessariamente, parceria com empresas locais que conhecem mais de perto a nossa realidade.

Na condição de presidente da Fieb, o senhor já foi convidado para participar de reuniões para discutir os problemas e apontar soluções para as cidades?
Nunca, embora 60% das indústrias instaladas na Bahia estejam instaladas no raio da Região Metropolitana de Salvador. E acho que não fui chamado porque esse assunto não faz parte da pauta das cidades, infelizmente. É por causa desta falta de sintonia que estamos ficando para trás. Vejam o caso de Pernambuco, por exemplo. Todas as grandes empresas estão na região do Porto de Suape e, aqui, não temos nada mesmo. Aliás, Pernambuco e Ceará, apenas para ficar no Nordeste, têm portos muito mais modernos e mais bem estruturados do que o de Salvador. Eu sempre digo que nós temos carga e não temos porto e eles (Ceará e Pernambuco) têm portos e não têm carga.

O que o senhor prevê para os próximos anos na Região Metropolitana de Salvador em dois cenários: um sem infraestrutura e o outro, com a realização de obras?
Se não houver planejamento, as cidades da Região Metropolitana vão sofrer um apagão no sistema de transporte. E esse apagão não está muito distante. Repito: esses problemas influenciam a decisão dos empresários. Uma coisa é você investir em uma cidade onde tudo ou quase tudo funciona bem; outra é você estar em um local sem mobilidade, sem infraestrutura e sem perspectivas. Com planejamento, tudo é diferente. A Região Metropolitana de Salvador carece de planejamento urgente. É preciso começar logo porque já perdemos muito.

Os novos temas do Fórum Agenda Bahia
A terceira edição do Fórum Agenda Bahia acontece em outubro e novembro deste ano. Especialistas nacionais e internacionais vão debater soluções para o crescimento do estado com um desenvolvimento mais sustentável. A partir de hoje, reportagens especiais e entrevistas com especialistas começam a discutir os quatro novos temas que serão abordados nos seminários. Confira a seguir as novidades:

O primeiro seminário, sobre Infraestrutura, vai debater a Metrópole Baiana. Em plena era das cidades, especialistas vão apontar caminhos para resolver os problemas comuns dos municípios  para que a RMS possa se renovar, inovar e ganhar maior destaque no país.

O Valor da Água vai abordar, em novembro, um assunto de vital relevância para a população baiana. Especialistas vão apresentar soluções e bons exemplos baseados nos aspectos ambientais, econômicos e sociais, o tripé da Sustentabilidade. Já existem alertas de escassez de água em capitais como Salvador a partir de 2015.

Em Agronegócio, dois temas ganham destaque: o Código Florestal (e as oportunidades que se criam com a nova lei) e a Logística no Campo (com os impactos na produção baiana). O ex-ministro de Agricultura Roberto Rodrigues já confirmou presença.

Também em novembro, o seminário de Turismo pretende apresentar o que pode ser feito para incrementar esse segmento expressivo da economia baiana, especialmente na atração e desenvolvimento de novos investimentos, na modernização dos equipamentos turísticos e na qualificação profissional.

Fonte: CORREIO, 23/07/12 - Adaptado pelo Site da Logística.