A Logística do Carnaval de Salvador.

17-03-2011 11:28

Por Leonardo Sanches de Carvalho

Passada a folia momesca na cidade de Salvador é chegada a hora de tentar fazer uma analogia entre a Logística e os acontecimentos característicos desse período festivo. Iniciaremos no período pré-festa onde se observa a chegada de centenas de milhares de turistas de todas as partes do mundo para Salvador. Dessa maneira, falamos do aumento na demanda dos aeroportos, rodoviárias, estradas e também dos portos, uma vez que a temporada de cruzeiros marítimos está cada vez mais intensa nessa época do ano.

Turistas em demasia significam cidade cheia, restaurantes cheios, shoppings lotados, praias, pontos turísticos, etc. Consequentemente isso demanda sistemas de transportes, ressuprimento de lojas, bares, restaurantes, intensificação da coleta de lixo, uma vez que a geração do mesmo é ampliada. Enfim, esses são alguns exemplos de “logística pura” e as suas consequências no período de pré-carnaval na cidade de Salvador.

Iniciada a festa podemos citar diversos outros acontecimentos de “logística pura”, a saber: operação especial da polícia militar, técnicos e médicos da secretaria de saúde, profissionais da área de transportes urbanos, agentes de trânsito, limpeza urbana, etc. Enfim, todos esses segmentos profissionais montam mega-operações logísticas para darem todo o conforto possível ao folião nas ruas da cidade. Porém, não se pode deixar de lado os profissionais do “entretenimento”, que trabalham e montam as estruturas de blocos e camarotes com serviços dos mais diversos: da água mineral às massagens relaxantes após um dia de folia. O que estaria por trás de todos esses fornecimentos e prestações de serviço senão a boa e velha Logística? Velha? Conhecida como Logística não é tão velha assim, porém, esse é assunto para outro artigo...

A festa do carnaval, o desfile dos blocos, a apresentação dos artistas são legítimas operações logísticas. Primeiro, falaremos do transporte, pois temos uma sucessão de caminhões ou carretas que carregam pessoas (em cima ou atrás, com excesso de peso, porém, com excesso de alegria também), instrumentos musicais e muita tecnologia. A seguir nos deparamos com as ordens de carregamento, ou melhor, a ordem de saída dos blocos que, como no ambiente empresarial, está bastante sujeito aos atrasos e problemas de organização. O roteiro do “transporte” se confunde com os circuitos do carnaval, os quais precisam ser obedecidos e, ao longo do roteiro existem alguns pontos de conferência de carga ou pesagem, os quais poderíamos fazer uma analogia com as paradas que os blocos fazem nos camarotes e emissoras de televisão.

Os caminhões de apoio são atrações logísticas à parte, pois são verdadeiros armazéns itinerantes com todos os tipos de bebidas e comidas que por sua vez suprem “carrinhos” menores e também são ressupridos ao longo do circuito, ou melhor, do roteiro logístico, através de grandes operações de crossdocking realizadas nas ruas estreitas do centro de Salvador.

Fora das cordas dos blocos, os vendedores ambulantes dão excelentes lições de logística sem nunca terem sentado numa carteira de faculdade. Visualizemos uma imagem repetida várias vezes pelas emissoras de televisão. Trata-se de um mar de gente e no meio alguns vendedores ambulantes. Surgem então várias perguntas: como eles pegam mais mercadorias? Como é feito o suprimento de gelo? Como aquelas “guloseimas” (se é que podemos chamá-las assim!) ainda estão quentes? Enfim, são vários questionamentos que uma operação logística gigantesca, envolvendo diversos familiares e meios de transporte alternativos, pode responder. Certamente poderiam sugerir algumas boas alternativas para o ambiente empresarial.

Enfim, chegamos ao final de um dia de festa e nos deparamos com o retorno dos foliões para suas casas, hotéis, albergues, entre outros, por diversos meios de transportes (ônibus, táxi, trem, carro, etc), numa cidade onde as questões de mobilidade urbana é um assunto extremamente crítico. Porém, a vazão acontece... Daí entra o bloco da limpeza para efetuar outra importante operação logística e preparar tudo para um novo dia de folia.

Terminada a festa de Momo, o ciclo se completa com o retorno dos turistas as suas cidades de origem, pelos aeroportos, rodoviárias, estradas, portos, etc. Toda a estrutura de camarotes, sanitários públicos, módulos policiais, postos de saúde, entre outras estruturas temporárias são desmontadas e a cidade volta a sua rotina logística.

 

Leonardo Sanches de Carvalho é Engenheiro Mecânico, Mestre em Administração e MBA em Logística e Distribuição. Trabalhou em empresas de grande porte como General Electric e VALE. Atualmente é gerente da área de Logística e Gestão da Produção do SENAI CIMATEC.
 

 

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