Por que Engenharia Logística? (Parte I)

06-10-2010 09:47

Por Leonardo Sanches de Carvalho

 

Os indicadores econômicos, na sua maioria, apontam para o desenvolvimento industrial como a grande alavanca para o crescimento do país, pois esse segmento vem, nos últimos anos, se mostrando como a principal via de geração de empregos. Uma Indústria de manufatura forte coloca o país em posição confortável, pois o mesmo deixa de depender somente de commodities, partindo para produção de bens finais e de maior valor agregado. Contudo, existe uma condição fundamental para que esse “status quo” seja implantado e mantido, que é o nível de capacitação dos trabalhadores desta indústria moderna. Processos mais complexos, mais rápidos e com um custo cada vez menor é o desafio da indústria de manufatura. Esse desafio chama-se LOGÍSTICA!

De nada adianta o Brasil ter o seu PIB voltando a crescer de maneira pujante se não existir infra-estruturas, principalmente na área de Logística, capazes de fazer com que a produção chegue até o mercado consumidor. Essa “ponte” que a Logística se encarrega de fazer, durante muitos anos foi tratada de uma maneira pouco técnica e muito empírica e de caráter meramente operacional, principalmente quando eram abordados temas relacionados a Transporte, Movimentação e Armazenagem de Materiais e Gestão de Estoques. Essa má conduta deixou como herança uma significativa elevação dos custos operacionais (logísticos), em função de ineficiência, retrabalhos, falta de sinergia, entre outros pontos fundamentais à sobrevivência das organizações em um cenário de competição global.

Costuma-se a dizer que aprendemos pelo amor ou pela dor e, no caso da Logística, infelizmente o Brasil vem aprendendo pela dor. Antes tarde do que nunca! A Logística é a palavra de ordem e o tema central de todas as decisões estratégicas que envolvem o crescimento do país. Problemas crônicos de infra-estrutura que ajudam, sobremaneira, a onerar ainda mais o “custo Brasil” continuam sendo debatidos, porém, com um viés estratégico e de longo prazo. O país precisa produzir mais, porém, precisa também entregar de maneira mais eficiente e eficaz essa produção, pois na maioria das vezes custa mais caro não entregar ou entregar errado. Portanto, o nível de serviço associado à produção passou a ser o cerne de toda a questão Logística para as organizações.

Estima-se que somente as ineficiências (devoluções, avarias, multas, etc) nas operações de transportes oneram as organizações em aproximadamente 10% a 15%. Problemas de gestão e prevenção de perdas (avarias, furtos e roubos) geram prejuízos de até 6% da receita operacional líquida das organizações. Na armazenagem o problema se repete com o mau aproveitamento do espaço disponível (armazéns pouco ou mal verticalizados). Utiliza-se, em média, 25% do espaço total disponível.

Esses problemas se somam a baixa eficiência na gestão dos estoques e, consequentemente, aumentarão o número de itens em giro, obsoletos e/ou produtos vencidos, necessitando assim de uma área maior para armazenagem, além de mais recursos operacionais. Acrescentam-se problemas com o layout e fluxo de materiais os quais podem gerar acréscimos nos custos operacionais na ordem de 15%.

Percebe-se assim a importância de uma atuação mais sistêmica e estratégica da Logística. As ações de planejamento, gestão e integração/colaboração são as atividades mais importantes e que terão impactos diretos em todas as outras atividades operacionais. “Planejar antes de agir, para fazer certo da primeira vez” é a mensagem de ordem, porém, nesse contexto, necessita-se de profissionais capazes de lidar com toda essa complexidade e liderar projetos colaborativos em todos os níveis de decisão. Para essa árdua e difícil tarefa faltam profissionais capacitados tecnicamente, e com um perfil eclético que possuam conhecimentos nas diversas áreas de competência pelas quais navega a Logística.

Atualmente nos deparamos com cursos de Bacharelado em Administração e Engenharia de Produção que tratam de algumas áreas de competência da Logística, porém, o núcleo central do curso não está voltado para a formação do “Logístico” e sim para a formação do Administrador e do Engenheiro. Mais recentemente, com o ressurgimento dos Cursos Superiores de Tecnologia, verificou-se o aparecimento de uma formação focada na área de Logística, porém, ainda carente de uma robustez que somente um curso de engenharia poderia fornecer a este profissional. Isso mesmo, ENGENHARIA! Refiro-me a possibilidade real de criação de um curso de ENGENHARIA LOGÍSTICA. Por que não? Existem inúmeros fatos que comprovam a necessidade desse profissional.

A Logística é um dos principais entraves ao crescimento econômico do Brasil por conta da carência de infra-estrutura, conforme já mencionado anteriormente. O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento - é completamente lastreado em ações na área de Logística e, alguns setores do Governo sinalizam para a necessidade de criação de um Ministério Especial de Logística. Aliás, se o Brasil estivesse na vanguarda das ações estratégicas da economia, já não teria mais um Ministério de Transportes e sim um Ministério de Logística que é muito mais abrangente e sistêmico. Enfim, fica clara a necessidade de massa crítica para atuar nesse importante e decisivo setor da economia brasileira e esse profissional é o ENGENHEIRO DE LOGÍSTICA!

As últimas duas décadas deram sinais evidentes da necessidade por profissionais com uma formação específica em Logística que aborde de maneira interdisciplinar conhecimentos de Economia, Administração de Empresas, Comércio Exterior, Matemática, Estatística e Engenharia. Um profissional com esse perfil é completamente aderente as demandas das Indústrias, de Atacadistas, Varejistas, Operadores Logísticos, Transportadores e dos mais diversos segmentos pelo caráter transversal que a competência em Logística determina.

Todas as competências básicas obrigatórias de um curso de Engenharia são completamente aderentes ao escopo da Logística e serão abordados e explicados com detalhes em outro artigo. O objetivo aqui foi sensibilizar, em primeira mão, sobre a necessidade da ENGENHARIA LOGÍSTICA frente às necessidades mais prementes para o desenvolvimento do país.

O Brasil ainda está correndo atrás do tempo perdido por conta de vários “equívocos” históricos e, infelizmente, a Logística ainda não se traduz como um diferencial estratégico e competitivo para a grande maioria das organizações, porém, essa é a meta de todas elas. Certamente a ENGENHARIA LOGÍSTICA será o meio que propiciará a transposição de todas as adversidades.

Leia também a parte II!

 

Leonardo Sanches de Carvalho é Engenheiro Mecânico, Mestre em Administração e MBA em Logística e Distribuição. Trabalhou em empresas de grande porte como General Electric e VALE. Atualmente é gerente da área de Logística e Gestão da Produção do SENAI CIMATEC.

 

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Data 12-02-2013

De erwin roger

Assunto informação de curso

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boa noite, quero saber aonde tem Engenharia de Logistica aqui em Minas Gerais? Ou no Brasil?
E-mail: erwinrogerconcha@gmail.com
obg

Data 09-03-2015

De Renato Alves

Assunto Re:informação de curso

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Olá Roger, aqui e Belém é oferecido o curso de Engenharia Ferroviária e Logística e que por sinal é inédito no Brasil por ter em sua grade estes dois seguimentos, é a única universidade a oferecer no Brasil, somos pioneiros, sou da segunda turma, o curso começou em 2014.

Data 24-11-2012

De Ruy Capetti

Assunto ENGENHARIA LOGÍSTICA

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Excelente artigo! Parabéns ao autor. A necessidade da criação da profissão de Engenheiro Logístico, no campo da Engenharia Logística, vem pouco a pouco (infelizmente), ganhando força no Brasil. Campo da engenharia que já devia estar consolidado, a Engenharia Logística tem origem em uma de duas abordagens distintas da Logística. A da Logística de Obtenção (como já vem sendo cunhada a Acquisition Logistics)(a outra abordagem sendo a Logística Empresarial - cf. Ballou). O propósito da Logística de Otenção é a obtenção de sistemas complexos, produzidos pelo homem (exemplos navios, aeronaves, submarinos, etc) simultaneamente com seu SISTEMA DE APOIO. Uma metodologia possível é pelo uso da Engenharia de Sistemas.
Sou oficial de marinha e há anos me dedico a defender as mesmas idéias em Logística no meu ambiente de trabalho. Maiores detalhes em https://www.submarinosdobr.com.br

Data 26-08-2012

De PROF. DELANO GURGEL DO AMARAL

Assunto ENGENHARIA LOGÍSTICA

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Sou Professor Universitário Pós-Graduação e Consultor Empresarial. Há mais de quinze anos venho pesquisando e estudando Processos Logísticos. Essa matéria vem mostrar uma realidade de tanto desperdício no Brasil. Associar tecnologia da informação à Processos Engenharia Logísticos traz solução, no curto prazo, a minimização dos custos de forma ampliada, inclusive "o custo Brasil".

Data 18-06-2012

De Amaury

Assunto S

Responder

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