Em Pecém (CE), o navio teve de esperar 25 horas fundeado diante do porto para atracar. Quando finalmente estava no terminal, a produtividade de cada guindaste foi de apenas dez movimentos de contêineres por hora, um terço da média mundial.
Em Salvador, uma falha num dos modernos guindastes especializados em contêineres, os portainers, fez a operação demorar o dobro do previsto. E em Manaus, segundo porto mais movimentado do país em cabotagem, a operação é toda manual, com atrasos e riscos aos estivadores, que precisam encaixar, sem a ajuda de equipamentos, os contêineres nos caminhões e no precário guindaste, que fica numa balsa sobre o Rio Negro.
Não é incomum um terminal atrasar a previsão de operação no porto em mais de 12 horas. Isso é inadmissível, beira o amadorismo extravasa o capitão Carlos Câmara, que comandou o Américo Vespúcio durante a viagem.
Nestes casos, o prejuízo é da empresa de cabotagem, que precisa navegar com força máxima até o próximo porto, gastando mais combustível custo que pode chegar a R$ 100 mil por dia ou, em casos extremos, pular uma escala. Estes atrasos são um entrave à ampliação desse mercado, que oferece custo cerca de 30% menor que as rodovias e no qual não há risco dos crescentes assaltos em terra o país ainda não tem piratas.
Os terminais com problemas apresentam explicações. Para a Companhia Docas de Pecém, tudo vai se resolver quando chegarem os novos guindastes no fim deste ano. O Tecom Salvador afirma que o atraso resultou de um incidente elétrico, raro de se repetir. Já em Manaus, o administrador do terminal Chibatão diz que as operações são seguras e que a produtividade é alta e que os guindastes sobre balsas são fundamentais na região, pois o nível do rio chega a variar até 17 metros durante as secas.
Mas para as três empresas que dominam a cabotagem de contêineres onde estão os produtos de maior valor agregado e crescimento mais acelerado a situação não é bem assim. Além de ampliar os prazos de escalas, elas criaram o serviço porta-a-porta, embora, às vezes, o trecho de caminhão de 250 quilômetros do interior de São Paulo a Santos custe mais que os sete mil quilômetros do litoral paulista a Manaus, segundo Luiza Bublitz, diretora comercial da Mercosul Line. Mas, sem isso, seu negócio seria inviável. A cabotagem acaba sofrendo pela situação das rodovias. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 63,8% das rodovias tinham deficiências de pavimento em 2013.
Segundo Gustavo Costa, gerente de cabotagem da Aliança, as empresas atuam com um navio a mais por rota e prazos maiores, para dar conta dos imprevistos, repassando custo a clientes.
Ainda não sentimos melhorias com a nova Lei dos Portos. Se houvesse eficiência, poderíamos ter mais escalas, atendendo mais mercados afirmou Vital Lopes, presidente da Log-In.
Para Leonardo Ferraz de Oliveira, da Lyra Navegação Marítima, que faz o transporte de granéis, qualquer perda de eficiência com problemas e burocracia afeta diretamente o setor.
O setor é muito concorrido, então todos estes problemas significam, no fim das contas, a inviabilidade de algumas rotas disse ele, lembrando que os problemas da cabotagem são mais que conhecidos pelo governo, que pouco faz para resolvê-los.
Logística consome 13,1% da receita de empresas
Paulo Resende, especialista em logística da Fundação Dom Cabral, afirma que a vantagem do transporte marítimo ganha mais destaque diante da situação de estradas e ferrovias. Segundo um estudo do fim de 2012, a logística consome 13,1% da receita das empresas brasileiras. Se o Brasil tivesse a mesma eficiência logística dos Estados Unidos, seriam economizados R$ 83,2 bilhões por ano:
O tempo mais longo da viagem de navio pode reduzir o custo de armazenagem.
O caos do sistema rodoviário joga clientes para os navios. Augusto Nogueira, da empresa de alumínio Novelis, já usa a cabotagem para transportar 30% de sua carga e pretende ampliar:
Não há problema em demorar mais, o importante é cumprir prazos. O caminhão pode ser mais rápido, mas a cada dia fica mais imprevisível, com problemas nas estradas e roubo de cargas.