O destino da SEP em jogo.

03-01-2012 20:20

Mesmo durante o recesso de fim de ano em Brasília, muitas são as especulações a respeito do futuro da Secretaria de Portos (SEP).

Especialmente porque sua anexação à estrutura do Ministério dos Transportes, uma das possibilidades aventadas, é entendida por muitos como um retrocesso. A presidente Dilma Rousseff ficará de férias na Bahia até o próximo domingo, se nenhum acontecimento anormal interromper seu descanso. Quando voltar ao trabalho, deverá conduzir mudanças no primeiro escalão do Governo. Uma reforma, com enxugamento no número de pastas, é uma ideia que parece ter perdido força.

O mais provável é que ocorram trocas pontuais de ministros ineficientes. Há pelo menos três possibilidades para a SEP, em caso de mudanças: a primeira é a simples saída de José Leônidas Cristino, o atual titular da secretaria. O motivo é que o PSB deve indicar o novo ministro de Ciência e Tecnologia, a cadeira que sobra na dança iniciada na semana passada com a saída de Fernando Haddad, da pasta da Educação.

Um nome ventilado para a função é o de Roberto Amaral, primeiro vice-presidente do PSB, que ocupou o posto em 2003, no início do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas saiu após defender publicamente a construção da bomba atômica brasileira.

"Eles (PSB) têm bons nomes. O próprio Eduardo Campos (governador de Pernambuco) foi ministro nesta área (entre 2004 e 2005)", disse uma fonte ligada ao Planalto, ouvida pela Reportagem. Haddad deixa o Ministério da Educação para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PT nas eleições deste ano.

Neste mês, o santista Aloizio Mercadante, atual ministro de Ciência e Tecnologia, assume a Educação. Apesar de satisfeita com o apoio do PSB no Governo, Dilma não quer um terceiro ministério sob administração dos socialistas. O partido controla, hoje, Portos e Integração Nacional, este tendo à frente Fernando Bezerra Coelho.

A saída seria dar Ciência e Tecnologia, mas tirar Portos. Ciro Gomes, ex-candidato à Presidência e ex-ministro de Lula, almeja um ministério mais forte para voltar à cena política, mas talvez aceitasse a pasta até agora ocupada por Mercadante. "É um ministério com um certo charme. Pode ser que o agrade", afirmou um petista com bons contatos em Brasília.

Volta a Sobral - Há quem diga que Leônidas Cristino, atual comandante da SEP, pode deixar o emprego atual para concorrer novamente à Prefeitura de Sobral. Esta hipótese não faz muito sentido, pois foi justamente este cargo que ele deixou para assumir a secretaria com status de ministério.

Quem defende esta ideia diz que seu objetivo, em um segundo momento, é disputar o Governo de Pernambuco, outra teoria das mais controversas. Seja para concorrer a outro cargo eletivo ou não, Cristino pode não ter muito mais tempo na SEP, pois existe uma certa insatisfação com o trabalho desenvolvido pelo chefe da Secretaria de Portos até aqui.

"Ele tem um perfil mais político, menos técnico", declarou o petista que acompanha de perto as movimentações políticas na capital federal. "Mas isso vai depender da disputa interna no PSB, entre os grupos do Cid Gomes e do Eduardo Campos", completou. Outra fonte acrescentou: Cristino não soube ganhar os empresários. "Ele não recebe ninguém do setor".

Superministério - A segunda possibilidade para a SEP é a criação de um superministério, que seria o de Logística ou o de Infraestrutura (o SITE DA LOGÍSTICA já abordou esse tema na coluna OPINIÃO. Confira AQUI o artigo!), abarcando portos marítimos e fluviais, aeroportos e hidrovias. Pedro Brito, economista que chefiou a Secretaria de Portos da sua criação, em 2007, até o ano passado, e que hoje é diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq, órgão regulador do setor), é um nome cotado.

"Ele (Brito) tem a simpatia de Dilma. Atuaram juntos na transposição do Rio São Francisco. Quando assumiu, ela, inclusive, queria que ele continuasse na SEP, mas teve que ceder a um pedido do PSB de Pernambuco", revelou uma das fontes consultadas pela Reportagem. Dilma e Brito se aproximaram, segundo a fonte, quando ela estava à frente da Secretaria da Casa Civil e ele, na Integração Nacional, como secretário-executivo e, depois, ministro.

A obra de transposição do rio está em andamento. Há quem diga, também, que Brito ganhou o respeito da hoje presidente por causa da aplicação maciça de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pela SEP em obras. O motivo é que Dilma valoriza muito os gestores que executam as verbas disponíveis com projetos importantes para o País.

"Ela quer morrer quando um ministério não executa seu orçamento", falou um político que conviveu com a presidente. O fantasma de Brito só assusta Cristino porque a atuação do ministro na chefia da secretaria foi deficiente, acredita uma outra fonte ouvida. "É fato que, neste ano, a SEP deixou a desejar", afirmou este espectador atento aos acontecimentos no setor. Para ele, no entanto, não é possível que Brito assuma novamente a pasta, se o PSB migrar para Ciência e Tecnologia.

O motivo é que Dilma não quer comprar uma briga com Eduardo Campos, a grande força do partido. Homem de confiança de Cid Gomes, o outro grande cacique da sigla, Brito foi vetado por Campos na formação original dos ministérios. Mesmo que Brito seja agraciado com uma indicação a uma pasta de Logística, desde já sabe-se que o setor portuário será relegado ao segundo plano, pois o setor aéreo, sempre envolto em polêmicas, tende a roubar atenção dos complexos marítimos.

A terceira possibilidade para a SEP, e que perdeu força nas últimas semanas, é a anexação da pasta à estrutura do Ministério dos Transportes, como era antes da criação de um ministério específico para os portos. Esta opção é a mais combatida pelo setor portuário, pois lembra uma época em que os investimentos federais tardavam a chegar em Santos, maior e mais importante porto do País.

Compromisso - Em visita a Santos durante sua campanha à Presidência da República, Dilma Rousseff se comprometeu - diante de pelo menos 100 espectadores, incluindo dezenas de jornalistas - a manter a Secretaria de Portos, caso fosse eleita. O discurso aconteceu em 30 de abril de 2010, na Associação Comercial de Santos. Mas Dilma, conhecida por honrar compromissos, também pode mudar de opinião.

"Se ela entender que o cenário é outro e que a SEP não está rendendo o esperado, tudo pode acontecer", afirmou um especialista portuário com bons contatos na Esplanada dos Ministérios. As especulações estão postas. Neste mês, virão os fatos. Ou não.

Fonte: A Tribuna / Usuport - Adaptado pelo Site da Logística.

 

 

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