Desafios da Logística - Entrevista com o Eng. Leonardo Sanches de Carvalho.
A infraestrutura continua sendo o grande problema da logística brasileira, afirma Leonardo Sanches de Carvalho, engenheiro mecânico e mestre em administração pela Universidade Federal da Bahia e com MBA em logística e distribuição pela Universidade Católica de Salvador, nesta entrevista para Eletrolar News. “Temos matriz de transporte extremamente dependente do modal rodoviário, portos ineficientes e malha ferroviária muito acanhada para as dimensões do País, além de problemas fiscais e relativos à segurança”, acrescenta ele, que gerencia a área de logística e gestão da produção do Senai Cimatec – Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia da Bahia.
1 – Como a logística contribui para o lucro ou o prejuízo de uma empresa?
Resp.: Vivemos em um mercado global altamente competitivo e os fatores qualidade e preço já não são determinantes, pois existe certa semelhança entre os players do ambiente concorrencial. Daí a grande relevância do nível de serviço associado aos produtos, ou seja, entregar certo e no prazo a um custo baixo determina quem continuará no negócio. É premente a necessidade de as empresas investirem fortemente em todo o processo logístico, buscando diferenciação para continuarem competindo no mercado. Cada vez mais o lucro ou prejuízo de alguns segmentos industriais ou comerciais passarão pelo nível de maximização de suas operações logísticas.
2 – O que é imprescindível na elaboração de uma estratégia logística?
Resp.: Buscar a consolidação de um planejamento estratégico para “pensar” a organização a longo prazo, levando-se em consideração o viés logístico, deve ser sempre o primeiro passo. A partir daí, é preciso, também, considerar questões geográficas (localização em relação a clientes e fornecedores), disponibilidade de infraestrutura logística, nível de capilaridade e capacidade de investimento em tecnologia da informação. Esse último ponto às vezes é descuidado pelas organizações e pode colocar toda a operação logística em risco, pois não podemos esquecer que a logística se traduz em gestão de “fluxos” físico e de informação.
3 – Terceirizar a logística é melhor do que ter estrutura própria?
A terceirização logística é um caminho viável, sim! Concentrar-se no seu core business pode vir a ser uma ação muito inteligente das organizações. Não se pode, porém, tratar isso como uma regra válida para todos. O que serve para uma organização não serve, na mesma medida, para outra. Cabe uma avaliação criteriosa para ver se há aderência ao modelo de gestão adotado pele empresa, pois, em determinados segmentos, a verticalização pode vir a ser o melhor caminho.
4 – Qual é a boa logística para o segmento de eletros?
Resp.: A boa logística se baseia em características simples. Entregar certo, no prazo acordado e com o preço justo. Para ser bom e eficaz o processo logístico não necessita de operações “hollywoodianas”. Se os atores que compõem a cadeia de suprimentos de eletros adotarem uma postura colaborativa, certamente a logística acontecerá de maneira fluida e todos sairão ganhando, principalmente o cliente final.
5 – No Brasil, quais as maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas?
Resp.: Infraestrutura é o grande problema da logística brasileira. Matriz de transporte extremamente dependente do modal rodoviário, portos ineficientes, malha ferroviária muito acanhada para as dimensões do país, além de problemas fiscais e relativos à segurança. Caberiam outros. É preciso, porém, deixar claro também que, com muito trabalho e criatividade, as organizações fazem a sua logística acontecer.
6 – Manter centros de distribuição em vários pontos do País reduz custos?
A estruturação de centros de distribuição em locais estratégicos pode vir a ser uma alternativa para reduzir os custos com o transporte. Não se pode esquecer, no entanto, de que existirão custos para montar e manter essa estrutura também. As organizações devem analisar seus processos logísticos de maneira sistêmica e não levar em consideração operações isoladas. A partir desse contexto macro é que devem decidir sobre a instalação de CDs ou a mobilização de grandes operações multimodais.
7 – A falta de segurança no transporte encarece muito a logística?
Resp.: Roubo de cargas e insegurança nas operações logísticas fazem parte do indesejado custo Brasil. Estudos recentes apontam que o custo logístico brasileiro está na casa de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e, certamente, a insegurança do transporte de cargas contribui sobremaneira para engrossar esses números. Por consequência, as empresas se utilizam de seguradoras, equipamentos de alta tecnologia como rastreadores e até escoltas para minimizarem seus prejuízos em relação aos roubos de cargas.
8 – No caso do e-commerce, quais os problemas?
Resp.: A logística do e-commerce é o grande desafio dessa modalidade de negócio. Receber o produto íntegro e no prazo é o primeiro critério de avaliação dos clientes desse segmento. A logística, portanto, se configura como a primeira imagem da empresa para os clientes. Certamente, fazer entregas perfeitas (produto certo, prazo e qualidade) com a infraestrutura logística disponível não é tarefa das mais fáceis. No entanto, a “evolução chinesa” dos últimos anos no segmento de e-commerce do Brasil prova que as organizações estão conseguindo superar as adversidades estruturais.
9 – Há diferenças entre a logística para lojas físicas e virtuais?
Resp.: Existindo loja física, sempre existirá a possibilidade de o próprio cliente retirar a sua mercadoria, e, às vezes, o preço do produto é até diferenciado por conta disso. Nesse caso, geralmente, a empresa dispõe de produtos em estoque, e a entrega pode ser imediata. Já nas lojas virtuais o transporte sempre fará parte do processo e será de responsabilidade do vendedor.
10 – Será possível uma única norma para a logística reversa de eletros?
Resp.: A única regulamentação referente à logística reversa foi aprovada recentemente. Trata-se do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, também conhecido como Programa de Logística Reversa. Essa ação governamental, entre outras coisas, responsabiliza o fabricante pela coleta e destinação de resíduos sólidos gerados pelos seus produtos. Até o momento, a lei se aplica a embalagens de óleo lubrificante, produtos de higiene e limpeza, embalagens em geral; lâmpadas fluorescentes; eletroeletrônicos e descarte de medicamentos. Atualmente, o sistema de logística reversa já funciona com pilhas, pneus e embalagens de agrotóxicos.
Link para a entrevista na Revista Eletrolar News - Págs 66 a 68.