Efeito Forrester - Entrevista com o Prof. Milton da Silva Cruz

Efeito Forrester - Entrevista com o Prof. Milton da Silva Cruz

As cadeias de suprimentos se debatem com um dilema há décadas. Trata-se do famoso "Efeito Forrester" (comumente chamado de Efeito Chicote). O Site da Logística resolveu tirar todas as dúvidas acerca desse tema com o especialista e professor Milton da Silva Cruz.

Site da Logística: O que vem a ser o “Efeito Chicote” na Cadeia de Suprimentos?

Prof. Milton Cruz: O “Efeito Forrester” mais conhecido como “Efeito Chicote” é o fenômeno da amplificação das ordens de demanda através da cadeia de suprimentos. Este efeito demonstra como as informações sobre a demanda real são distorcidas ao fluir dentro da cadeia de valores, no sentido dos consumidores finais aos fornecedores. Essas distorções ocorrem quando essas informações são interpretadas, processadas e repassadas ao outro elo da cadeia. Se a demanda por produtos for transmitida ao longo de uma série de estoques, então a variação da demanda aumentará com cada transferência.

A realidade das organizações demonstra, que em um sistema de previsão de demanda existem sempre erros associados. Esses erros se propagam, e o mais grave, amplificam-se ao serem transmitidos de empresa a empresa dentro da cadeia de valores, no sentido cliente-fornecedor. A variabilidade da demanda por produtos junto aos consumidores finais é dada por fenômenos naturais. Esses fenômenos podem ter causas em inúmeros fatores, como por exemplo, datas especiais que incentivem o consumo.

Site da Logística: Por que o “Efeito Chicote” acontece e quais os impactos diretos nas organizações?

Prof. Milton Cruz: Existem algumas causas para a ocorrência do Efeito Chicote que provocam impactos diretos e indiretos para as organizações, quais sejam:

a) Processamento das variações na demanda – quando um varejista por exemplo, tem um aumento nas suas vendas, ele ajusta as suas previsões e aumenta o volume de pedidos para restabelecer os seus níveis de estoque. No entanto, esse aumento no volume de pedidos é influenciado pelo aumento na procura e pela diminuição dos níveis de estoque do varejista. Desta forma, o aumento no volume das compras do varejista é maior do que o aumento das suas vendas. Esta amplificação é refletida nos dados da procura que o fornecedor utilizará na sua gestão de estoques. O mesmo fenômeno ocorre na relação entre o fornecedor e o fabricante, amplificando ainda mais a variação da procura deste último. Em situações em que o “lead time” de entrega é longo a tendência é a do agravamento das flutuações nas ordens de compra .

b) Racionamento – numa circunstância em que haja expectativa de falta de produtos os agentes da cadeia tendem a fazer compras superiores às suas reais necessidades. Este comportamento acentua ainda mais o efeito chicote, amplificando o grau de variação das vendas ao longo da cadeia de distribuição o que torna impossível para o fabricante determinar a real procura do seu produto.

c) Formação de lotes de compra e de produção – As organizações tendem a agrupar pedidos com o objetivo de diminuir o custo de processamento de ordens de compra e o custo de transportes, que normalmente é fixo, independente da quantidade transportada, portanto quanto maior for a quantidade de produtos transportados, menor será o o custo de transporte sobre o produto. Estes fluxos irregulares de ordens vão amplificar-se ao longo da cadeia de abastecimento causando o efeito chicote..

d) Variações de preço – As variações de preços, resultam em compras de grandes quantidades por parte dos demandantes levando à formação de estoques. Quando se retorna à situação normal de venda, os clientes deixam de comprar o que leva a que o padrão de compras não reflita o padrão de vendas.

Site da Logística: Como reduzir as conseqüências do “Efeito Chicote”?

Prof. Milton Cruz: Dentre várias medidas que podem ser adotadas pode-se agilizar o tratamento da informação sobre os pedidos, reduzindo os tempos envolvidos na execução das atividades, o que provoca um pequeno impacto sobre a amplitude das variações. Essa providência pode tornar as cadeias mais curtas para reduzir o efeito chicote. Outra medida é melhorar a qualidade dos dados transmitidos entra as organizações componentes da cadeia, evidenciando a importância de que todas as empresas envolvidas na cadeia terem aceso às informações de vendas, e por fim ajustar os niveis de estoque, controlando as suas variações, não apenas num período, mas numa sequência de produtos futuros.

Site da Logística: De que maneira a Logística Colaborativa e a Tecnologia da Informação poderiam minimizar essas conseqüências?

Prof. Milton Cruz: Começo respondendo que todas as soluções indicam para o estabelecimento de uma Cadeia Colaborativa, composta por todos os elos, indicando clara e precisa interdependencia entre os atores daquela cadeia. É assim que, necessáriamente deve haver uma estarégia de partilha de infomações, desde os pontos de venda, instalação de sistemas de troca eletrônica de informações do tipo EDI, um sistema de Planejamento dos Recursos da Organização (ERP) que se adeque a cada organização, combinado com sistemas e formas concretas de sistemas de suporte à decisão e gestão da Cadeia de Abastecimento. Há ainda sistemas complementares como o Gerenciamento de Inventários (VMI) visando traçar estratégias logísticas a partir do acesso a informações dos estoque na cadeia, a possibilidade de realização de compras diretas – reduzindo o custo de pedidos – além de estratégias operacionais, tais como promover a redução dos tempos de abastecimento (Lead Time), e aplicação das estratégias de abastecimento das linhas “a tempo e a hora” como o JIT – Just in Time, visando a manutenção dos estoques relativos às quantidades que serão efetivamente produzidas.

Site da Logística: As organizações brasileiras estão preparadas para trabalharem de maneira colaborativa ou ainda ficarão, por muito tempo, reféns do “Efeito Chicote”?

Prof. Milton Cruz: De maneira geral, analisando o perfil da indústria brasileira que em grande parte é produtora de “commodities”, onde o controle do custo de produção e distribuição é de fundamental importância, eu diria que não. Somente organizações de grande porte já perceberam a importância de se manterem colaborativas por conta de estarem interagindo em mercados bastante competitivos e internacionalizados. Posso até abstrair que os fornecedores das empresas de grande porte, que são participantes de outras cadeias produtivas poderão absorver um aprendizado que será ampliado até as demais empresas, na forma de lições aprendidas. Entretanto, isso somente ocorrerá na medida em que as cadeias de abastecimento comecem a mitigar os resultados auferidos no passado recente, à vista das condições de operação nas condições adversas dos mercados – nacional e internacional – que são ajustados pela valorização das moedas e pelo estudo constante das variações de demanda.

O Professor Milton da Silva Cruz é Economista, MBA em Logística e Distribuição, consultor de empresas, coordenador e docente do MBA Executivo em Logística e Gestão da Produção da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC.  

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Data 17-07-2019

De Ana Castro

Assunto Parabenizando

Responder

Grande prof. Milton, tive a honra de ser colega de trabalho desse excelente profissional.

Data 30-10-2012

De Marcia dos Santos

Assunto Parabenizaçao

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Parabéns professor Milton,fiz um breve curso no Cimatec e tive a satisfaçao de te-lo como Mestre, um verdadeiro referencial na area Logística.Um abraço.

Data 04-03-2014

De Daniel Fragoso

Assunto Entendo o efeito chicote

Responder

Prof, ótima explicação sobre o assunto. Assim ficou bem mais fácil entender e perceber a importância de saber mais sobre logística. Vejo também a importância para as empresas que querem permanecer firme num mercado tão competitivo.

Data 29-11-2011

De Gisélia Souza Couto

Assunto PARABENIZAÇÃO

Responder

Parabéns Professor Milton, como sempre esclarecendo-nos dúvidas sobre os temas referentes à Logística.

Email: giseliacouto@hotmail.com

Data 03-07-2011

De Camila

Assunto Parabenização

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Gostaria de parabenizar o professor por sua explanação mais do que esclarecedora sobre o tema.
Não sou da área tecnológica e ainda assim consegui apreender muitos conhecimentos sobre o fenômeno.
Meus sinceros parabéns!!

Data 19-05-2011

De Michele

Assunto Interesse pelo assunto "Efeito Chicote"

Responder

Prof.Milton!

Achei interessantissíma sua posição sobre este assunto,que muita das vezes passa desapercebido entre os profissionais e empresarios da area.
Gostaria de lhe pedir mais dicas sobre este assunto,pois pra mim será de suma importância e assim aprimorará meus conhecimentos como estudante de logística.

Email: mychelleserva@hotmail.com

Obrigada!

Data 24-05-2011

De Milton Cruz

Assunto Re:Interesse pelo assunto "Efeito Chicote"

Responder

Prezada Mychelle,
Peço-lhe desculpas por estar respondendo o seu comentário somente agora. Agradeço as suas considerações e indico a leitura do assunto em bons autores, tais como Chopra, Sunil: Gerenciamento da Cadeia de Suporimentos, ou Simchi-levi, David: Cadeia de Suprimentos.
Além, desses e de outros livros que você poderá encontrar nas boas livrarias e bibliotecas com acervo atualizado, procure na internet por trabalhos de mestrado e de doutorado, pois tenho certeza de que você encontrará informações preciosas sobre o assunto. Parabéns pelo seu interesse e muito obrigado por prestigiar o nosso site. Continuo à sua disposição para outros esclarecimentos.
MIlton Cruz