Redes Marítimas – Entrevista com o Prof. Carlos César.

O SITE DA LOGÍSTICA aborda nessa entrevista com o professor Carlos César o entendimento sobre o tema Redes Maritimas a partir do uso da tecnologia de Redes Complexas e a sua aplicação com vistas a tornar mais competitiva a Cadeia de Suprimentos no modal aquaviário. Aproveitem a entrevista!

Site da Logística: Qual é o foco específico de sua pesquisa com Redes Marítimas?

Prof. Carlos César: A pesquisa tem como objetivo a construção e análise de Redes Marítimas a partir do uso da tecnologia de Redes Complexas, conhecida na Modelagem Computacional. Redes Complexas, fundamentadas nos trabalhos de Wasserman e Faust (1994), Mark Newman (2010) e Albert Barabási (2016), são representações gráficas constituídas a partir de um conjunto de vértices (também conhecidos como nós) que são interligados por meio de arestas (ou pontes), formando um grafo que permite codificar algum tipo de relacionamento. Tal modelagem pode responder a questionamentos oriundos de um determinado evento ou problema científico. Por exemplo, se prentendemos estabelecer taxonomias (padrões) existentes entre os atores de uma cadeia de suprimento, para a tomada de uma decisão estratégica, a tecnologia de Redes Complexas auxilia diretamente o gestor nessa análise.

Site da Logística: Então nesse caso, quais seriam as principais informações estratégicas que as Redes Marítimas poderiam fornecer a um profissional da Logística, utilizando a tecnologia de Redes Complexas?

Prof. Carlos César: Primeiramente, precisamos destacar que a tecnologia de Redes Complexas se configuram como uma robusta ferramenta de representação e análise de dados capaz de capturar as relações espaciais, topológicas e funcionais, presentes em diversas bases de dados. Em se tratando do modal aquavário, por exemplo, considerando os portos como vértices dessas redes e a movimentação dos navios as arestas, podemos identificar os principais hubs da navegação marítima de um país, construir roteirizações mais competitivas entre os principais portos, identificar hinterlands (zonas de influências portuárias), estabelecer indicadores de centralização e intermediação entre portos e ainda medir a eficiência e produtividade de um porto com base em taxonomias (padrões).

Site da Logística: Existem estudos similares no mundo que utilizam a Redes Marítimas aplicadas com a tecnologia de Redes Complexas?

Prof. Carlos César: Identificamos que a abordagem de Redes Complexas no modal aquaviário é ainda inédita no Brasil, porém, muito discutida e aplicada na Europa. Países como França, Inglaterra, China e Espanha já utilizam a modelagem complexa de Redes Marítimas para a tomada de decisões estratégicas dentro do modal aquaviário. Por exemplo, um trabalho de Redes Complexas sobre a navegação marítima entre portos da Europa, desenvolvido pelos professores Cesar Ducruet e Theo Notteboom em 2010, estabeleceu parâmetros de decisão de roteirizações a partir das análises das topologias das redes construídas. Essas redes apontaram a influência da distribuição geográfica entre portos e do tráfego de navios, como fatores predominantes na tomada de decisão de um operador logístico.

Site da Logística: Você acredita que este tipo de Modelagem pode ser utilizado para outros modais?

Prof. Carlos César: Acreditamos que sim! O modelo, como já dito, tem como premissa estabelecer vértices e arestas e as possíveis relações existentes entre elas. Os vértices podem ser, por exemplo, uma rodoviária, um porto ou um aeroporto. Podemos considerar as arestas como a movimentação de caminhões entre as rodoviárias, de navios entre os portos e de aviões entre os aeroportos. Com uma base de dados construida a partir de uma série histórica, essa modelagem computacional permite identificar indicadores, tipologias e índices que auxiliam um profissional de logística na tomada de decisão mais assertiva e estratégica.

Site da Logística: Finalizando professor, quais são os benefícios que a tecnologia de Redes Complexas poderá trazer para a Logística futuramente?

Prof. Carlos César: Podemos afirmar que, em um futuro próximo, as Redes Marítimas poderão ser comumente utilizadas na construção de roteirizações mais competitivas para todos os modais; possibilitar a realização de planos estratégicos para desconcentração progressiva da malha rodoviária, lembrando que este é um grande gargalo logístico em nosso país; adequar as informações transmitidas entre atores de uma cadeia de suprimento, com vistas à eficiência estratégica na movimentação de atores dentro dessa cadeia e, ainda, inserir o Brasil nos estudos e impactos sobre a utilização de Redes Complexas na Logística, em consonância com os demais países competitivos.

O professor Carlos César é doutorando em Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial, Mestre em Administração e graduado em Administração de Empresas. Atua como docente e coordenador de cursos de graduação e pós-graduação na Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC.